Método de avaliação
Avaliação das componentes teórica e prática
Pretendo com a avaliação selecionar negativamente os alunos que não vão além de um nível nominal de literacia, ou seja, incapazes de responder a perguntas simples de botânica e que não possuem um vocabulário, conceitos ou a capacidade cognitiva para identificar e responder questões elementares de botânica, ou que, embora o façam, têm um baixo nível de compreensão desta ciência carregada de erros conceptuais (BSCS, 1993). Um aluno mediano (10-13 valores) tem um conhecimento descritivo dos conceitos de botânica e da planta (literacia funcional). O bom aluno, de classificação elevada (14 -18 valores), atinge um nível conceptual de literacia botânica: usa o vocabulário e os conceitos botânicos corretamente, é capaz de os relacionar entre si e de os aplicar na prática da botânica de campo e das ciências agrárias (conhecimento ou literacia procedural) (BSCS, 1993; Salaberry, 2018; Uno, 2009). O bom aluno demonstra uma elevada autoeficácia, i.e., tem a perceção de que reúne as competências necessárias e é capaz de realizar tarefas relacionadas com o domínio de aprendizagem em causa (Bartimote-Aufflick et al., 2016). Em três décadas de lecionação tive apenas um aluno excecional (19-20 valores), de literacia multidimensional, com um sólido conhecimento de campo das plantas e competências individuais que se estendessem, por exemplo, aos aspetos históricos e filosóficos da ciência botânica e ao desenho de um programa de investigação científica no âmbito da botânica aplicada à agricultura.
Como sou docente de botânica, uso testes/exames de escolha múltipla na avaliação da componente teórica de botânica. As metodologias de construção deste tipo de testes/exames estão escalpelizadas em numerosas publicações [e.g. Haladyna et al. (2002) e Moreno et al. (2015)], escuso-me, por isso, de as repetir. Disponho de uma base de dados com 915 questões de três alternativas (a 1 de janeiro de 2025) e concretizo a correção com a app ZipGrade (https://www.zipgrade.com). Por norma, adiciono 5-10 questões novas por teste/exame e altero amiúde a construção frásica e a ordem das respostas. Os testes geralmente compreendem 40 questões e os exames 60 (1 pergunta/min, com tolerância de 5 min). Não há vantagem em aumentar o número de questões porque, constatei experimentalmente, a partir da correção da pergunta 30, a hierarquização dos alunos pouco se altera.
O baixo esforço, rapidez e objetividade da correção são as vantagens mais óbvias dos testes/exames de escolha múltipla. Há, porém, uma questão-chave que desde sempre me preocupa: como selecionar positivamente nos testes/exames de escolha múltipla os alunos capazes de relacionar conceitos e de os utilizar em condições práticas, o tal conhecimento procedural (e autoeficácia), em detrimento dos alunos com elevada capacidade de memorização de literacia funcional (os alunos iliteratos ou de literacia meramente nominal são fáceis de destrinçar em exames de escolha múltipla)? A forma mais simples de o fazer, diz-me a experiência, passa por estruturar parte do teste/exame com questões que:
- Relacionem estrutura e função. [e.g. «Admite-se que o ovário ínfero (frente ao ovário súpero): a) facilita a polinização cruzada; b) aumenta a proteção dos primórdios seminais contra insetos fitófagos; c) aumenta a resistência dos frutos à dessecação.»];
- Envolvem o relacionamento de dois ou mais conceitos, de preferência com referências a observações realizadas nas aulas práticas. [e.g. «Selecione a opção mais correta. a) A maior parte das células de um tronco estão mortas. b) O ritidoma inclui apenas tecidos produzidos pela felogene. c) As trocas gasosas dos troncos fazem-se através das cicatrizes foliares.»];
- Exponham os alunos a problemas reais inusitados. [e.g. «Recorde as características diagnóstico das prunoideas (Rosaceae). O fruto representado na fotografia (omisso aqui, uma cereja dupla) tem origem: a) num ovário bicarpelar profundamente partido; b) num gineceu com dois pistilos monocarpelares; c) na coalescência de duas flores.»];
- Incidam em temas de interesse prático, por mais simples que sejam. [e.g. «Numa pastagem constituída por flora indígena encontra uma folha trifoliolada. Pertence certamente a uma planta da família das: a) leguminosas; b) gramíneas; c) asteráceas.»];
- Permitam recuperar um termo ou um conceito de forma lógica a partir das opções de escolha múltipla. [e.g. «Nas gramíneas durante a fase de encanamento: a) ocorre com um intenso afilhamento; b) verifica-se um alongamento dos entrenós do colmo; c) ocorrem a ântese e a fecundação.»];
- Sempre que possível solicitem o conceito em vez do termo. [e.g. «O que se dispersa nos frutos deiscentes? a) A semente. b) O fruto. c) A placenta.»];
- Nunca desvalorizando um corpo básico de questões indispensáveis ao saber botânico que devem ser repetidas, ainda que reescritas, em todos os teste/exames. [e.g. «O embrião da semente resulta do desenvolvimento de um: a) primórdio seminal; b) saco embrionário; c) zigoto.»].
A componente prática envolve um exame baseado na ficha anexa (Anexo II) centrado em duas plantas selecionadas ao acaso, obrigatoriamente uma dicotiledónea e uma gramínea, e a discussão de um herbário com 40 plantas. As plantas do herbário serão coladas em folhas A4 de 120g e etiquetadas de acordo com o modelo seguido pelo herbário da Escola Superior Agrária de Bragança (BRESA).
Acrescento ainda que excluí do processo de avaliação monografias, revisões, trabalhos, relatórios, posters e apresentações porque, no meu entender, e até prova em contrário, a sua utilidade e objetividade estão comprometidas pela Inteligência Artificial Generativa (IAgen). Há uma grande preocupação no meio escolar universitário em torno do efeito disruptor da IAgen em particular na dinâmica e na qualidade da aprendizagem, na avaliação, e na originalidade e autoria dos produtos escolares (Chatterjee & Dethlefs, 2023; Sweeney, 2023) – e faltam gidelines superiores a regular o seu uso (Duah & McGivern, 2024).
Cálculo da nota final
Componente teórica (nota mínima de 8,5 valores)
- Alternativa 1:
- Frequência 1 (7 primeiras aulas) (25% da nota final);
- Frequência 2 (7 últimas aulas) (25% da nota final).
- Alternativa 2: Exame final escrito (50% da nota final).
- Exame final escrito (50% da nota final).
Componente prática (P) (nota mínima de 8,5 valores)
- Exame final (25% da nota final);
- Discussão do herbário (25% da nota final).
Na discussão do herbário é obrigatória a memorização dos nomes científicos específicos e familiares de 38 das 40 plantas. Os alunos podem repetir esta etapa três vezes até obter a aprovação.