Mimetismo e camuflagem
O mimetismo (similaridade visual com outras espécies; mimicry) e a camuflagem (morfologia semelhante ao meio envolvente; camouflage) são menos frequentes nos vegetais do que entre os animais. A camuflagem não é uma interação ecológica porque não envolve a interação entre diferentes espécies. Desde Darwin que ambos são usados como evidências dos efeitos da seleção natural.
Em Angola, observei plantas parasitas do género Tapinanthus (Loranthaceae) a mimetizar as folhas das espécies parasitadas, provavelmente para escapar à herbivoria (os Tapinanthus são muito apetecidos pelos grandes herbívoros). Estão descritas trepadeiras a mimetizar as plantas que lhe servem de suporte com o mesmo objetivo (Gianoli & Carrasco-Urra 2014). Refere-se mais adiante (v. «Polinização por engano») que, na polinização por engano alimentar, espécies sem recompensas alimentares produzem flores morfologicamente similares a espécies com néctar abundante. Muitas plantas usam a camuflagem para se confundirem com objetos irrelevantes do meio ambiente e dessa forma se esquivarem aos seus inimigos (Niu et al., 2018) (Figura 1.14).
FIGURA 1.14. Camuflagem nas plantas. Várias aizoáceas do Sul de África – e.g., géneros Lithops, Argyroderma ou Pleiospilos (Pleiospilos nelii, na figura) – passam desapercebidas em solos pedregosos (Kellner et al. 2011). [Fotografia do autor.]
O mimetismo vaviloviano (vavilovian mimicry) tem um particular interesse para o agrónomo e para o arqueólogo. Este tipo peculiar de mimetismo, originalmente descrito pelo grande agrónomo russo Nikolai Vavilov (1887-1943), refere-se à convergência de características das plantas infestantes em direção às plantas cultivadas em resultado da pressão de seleção imposta pelas práticas agrícolas (McElroy, 2014). O mimetismo vaviloviano toma diferentes formas consoante o momento do ciclo de vida da infestante em que a seleção atua. As técnicas de limpeza de sementes (e.g., crivos ou volteio no ar) explicam a evolução de sementes similares, na forma ou na densidade, com as sementes de várias plantas cultivadas. Na cultura tradicional do linho ocorriam várias infestantes, hoje praticamente extintas, com sementes miméticas, categorizadas pelos taxonomistas clássicos, consoante os casos, desde a forma até à espécie (Castro & Sequeira, 1995). Em consequência de um processo milenar de seleção artificial através da monda manual – as plantas similares ao arroz não foram erroneamente mondadas e multiplicaram-se –, o corpo vegetativo da Echinochloa crus-galli var. oryzicola (Poaceae) é praticamente idêntico ao do arroz cultivado, e muito distinto do corpo vegetativo dos ecótipos selvagens da espécie (Barrett, 1983). A resistência de uma infestante ao herbicida glifosato na cultura da soja transgénica com genes de resistência ao mesmo herbicida é um caso de mimetismo vaviloviano a nível fisiológico. Pese embora a divergência morfológica frente às populações selvagens, a maior parte dos exemplos conhecidos de mimetismo vaviloviano não estão isolados reprodutivamente – são atualmente entendidos como ecótipos, mais concretamente agroecótipos.