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Enquadramento nas prioridades estabelecidas no âmbito das Áreas Prioritárias de Intervenção e interesse económico

As principais espécies arbóreas que existem na região do Nordeste Transmontano são Carvalhos (Quercus pyrenaica), Castanheiros (Castanea sativa Mill.) (Agroconsultores e Coba, 1991) e alguns povoamentos de Pinheiro (Pinus pinaster, P. nigra e P. sylvestris).

A cultura de Castanea sativa Mill. e de Carvalho (Quercus pyrenaica), possuem um interesse socio-económico regional elevado, pela produção de madeira de alta qualidade, para ambas as espécies, e de castanha no caso do castanheiro. Na última década tem-se assistido a um decréscimo das áreas ocupadas por estas duas espécies. No caso do Castanheiro esta situação advém sobretudo das técnicas culturais aplicadas, que fomentam a disseminação de doenças radiculares, como a doença da tinta (Portela et al., 1998). Os carvalhais têm sofrido uma forte acção antropogénica, essencialmente por acção do fogo, de cortes intensos para obtenção de madeira ou, mais recentemente, substituídos por outras espécies, nomeadamente Pinheiro, através de rearborizações. Devido à diminuição das áreas de carvalhal, atribui-se a este habitat o estatuto prioritário em termos de conservação da natureza pela Carta de Valores Florísticos do Parque Natural de Montesinho (Rodrigues, em preparação).

Devido à reconhecida importância destas espécies arbóreas, sobretudo do castanheiro e carvalho, para as populações rurais, e do decréscimo das áreas por elas ocupadas, torna-se urgente adoptar medidas adequadas para a revitalização do cultivo destas espécies no Nordeste Transmontano.

Neste contexto surgem as ectomicorrizas, associações entre fungos do solo e as raízes de algumas espécies arbóreas, pelos enormes benefícios que trazem à planta hospedeira. As principais vantagens para a planta traduzem-se num aumento do crescimento, na absorção de nutrientes e de água (Marschner & Dell, 1994; Augé, 2001), maior tolerância a patogénios radiculares (Marx, 1972; Cordier et al., 1998), a metais pesados (Brunner & Frey, 2000) e a temperaturas extremas (Marx et al., 1970; Marx & Bryan, 1971).

Assim sendo, a inoculação das plantas em estudo, com fungos nativos, permite uma maior sobrevivência quando cultivadas no campo. Esta prática, parece assim ser uma solução a adoptar por forma a contribuir para o aumento da produtividade destas espécies.

Esta simbiose pode originar uma outra possibilidade económica, às populações rurais, já que, a inoculação das plantas com fungos de interesse comercial, permite aumentar o rendimento com a produção e venda de cogumelos. De facto, durante a última década, tem-se assistido a uma intensificação da colheita de cogumelos silvestres comestíveis nesta região, resultado da pressão exercida por mercados externos, nomeadamente Espanha, França e Itália, tornando-se uma actividade económica de grande importância para estas populações rurais.

Por outro lado, estes fungos podem possuir um interesse social, recreativo, educativo e estético, resultante da organização de saídas de campo devidamente guiadas para a divulgação e conhecimento generalizado das diferentes espécies de cogumelos silvestres. Estas actividades poderão fomentar o designado "micoturismo", que incentivará as pessoas da cidade a deslocarem-se até ao campo, tendo como consequência a dinamização das populações rurais.

Estes sistemas mutualistas simbióticos de carácter benéfico, possuem ainda um crescente interesse ambiental, pelo seu reconhecido papel na mobilização de nutrientes (Read & Smith, 1997). São ainda uma componente importante na reciclagem de nutrientes e contribuem para o equilíbrio dos fluxos desses elementos em ecossistemas florestais (Fitter, 1991; Smith & Read, 1997; Buscot et al., 2000). Por outro lado, a utilização de plantas inoculadas com fungos nativos, permite reduzir a necessidade do uso de fertilizantes.

Nestas condições, a valorização da produção de castanheiro, carvalho, pinheiro e de cogumelos silvestres, deverá contribuir para fomentar o desenvolvimento endógeno da região e travar o fenómeno de desvitalização social e económica do meio rural.