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Estado actual do conhecimento técnico-científico disponível para aplicação/extensão

A flora micológica nacional tem sido alvo de reduzidos estudos, e que são na sua maioria resultado do interesse individual de micologistas e de um conjunto de amadores de micologia que, tentam dar o seu contributo neste domínio. Pensa-se que o Nordeste Transmontano, pelas suas características edafo-climáticas e pela sua diversidade de flora, possa ser uma das regiões dos países europeus com maiores recursos em cogumelos silvestres, muitos dos quais de grande importância gastronómica (Pereira et al., 2001).

Os poucos trabalhos realizados nesta área, a maioria dos quais efectuados/orientados pela equipa proponente do projecto e pelo grupo da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, revelaram que esta região, apresenta, de facto, elevadas potencialidades micológicas por apresentar uma grande biodiversidade (Meireles, 1997; Barrote, 1998, Estevinho, 1998; Baptista et al., 2003; Branco, 2003). Em plantações de castanheiro foram registadas espécies de elevado valor comercial e em quantidades não desprezáveis (Baptista et al., 2003). O mesmo se verificou em povoamentos de carvalhal (Branco, 2003). De entre as espécies comestíveis, registadas nos dois povoamentos, destacam-se a Amanita caesarea, Amanita rubescens, o Boletus edulis, Boletus aereus, Hydnum rufescens e Cantharellus cibarius, por serem as espécies que maior valorização económica apresentam nos mercados internacionais.

Por outro lado, e devido essencialmente às condições climáticas existentes nesta região, algumas espécies de macrofungos comestíveis frutificam em épocas do ano em estas mesmas espécies são escassas noutros países da Europa (Cano, 2002). Este facto associado à existência de consideráveis quantidades de cogumelos comestíveis, incentivaram compradores, sobretudo empresários de Espanha e França, a procurar este recurso natural junto das populações transmontanas, tornando-se uma fonte de rendimento não negligenciável. Assim sendo, a colheita de cogumelos silvestres que era, até há poucos anos, efectuada apenas para autoconsumo, actualmente, devido à crescente procura, tem-se tornado um importante recurso complementar, de valor frequentemente não quantificado, quer ao nível económico, quer ao nível do impacto produzido nas culturas (uma vez que a maioria são micorrízicos).

Em Portugal regista-se também um reduzido número de trabalhos na área de inoculação de plantas com fungos. O interesse destes estudos porém, transparece quando se verifica que a nível internacional existem extensos e integrados trabalhos na aplicação de fungos em programas de reflorestação (Marx et al., 1977, Marx & Cordell, 1989; Marx et al., 1991; Brundrett et al., 1996; Le Tacon et al., 1997; Dell & Malajczuk, 1997), biorremediação e obtenção de metabolitos (na indústria farmacêutica entre outras), o que evidencia bem a importância associada a estes organismos e à necessidade de os utilizar como ferramenta biotecnológica.
Trabalho relacionado com fungos micorrízicos e a associação micorrízica, e em particular com a síntese micorrízica em plantas de castanheiro e os aspectos fisiológicos da simbiose, tem vindo a ser desenvolvido pela equipa proponente do presente projecto nos últimos anos (Martins et al, 1990; Martins, 1992; Taveira Pereira, 1994; Martins et al., 1996; Meireles, 1997; Martins, 1997; Martins et al, 1997; Moreira dos Santos, 1997; Estevinho, 1998, Mendes, 1999; Lino, 1999; Martins et al., 1999; Martins, 1999; Teixeira, 1999; Caldas, 2000).

Alguns destes trabalhos constituiram temas de trabalhos de fim de Curso de alunos da Escola Superior Agrária de Bragança, orientados pela proponente responsável (Taveira Pereira, 1994; Meireles, 1996; Estevinho, 1998; Lino, 1999; Teixeira, 1999; Mendes, 1999; Caldas, 2000). Este trabalho tem sido financiado por vários projectos, de entre os quais se contam: STRIDE (1992-1995) - "Estudo dos efeitos da micorrização in vitro de plantas micropropagadas de Castanea sativa Mill", AIR CT-1742 (1993-1997) -"Improvement of the growth performances of forest trees (Pseudotsuga menziesii, Picea abies, Picea sitchensis, Pinus pinaster and Quercus robur) and fruit trees (Castanea sativa) by microbial inoculation of cuttings", PRAXIS - castanheiro (1997-1999) - "Conservação e melhoramento dos recursos genéticos de castanheiro", Consórcio PRAXIS MESOCASMIC (1997-2000) - "Melhoramento da sobrevivência de castanheiro por micorrização", Consórcio IC-PME ECOPLUGMIC (1999-2001) - "Application of eco-fungiplug in the control of pathogenic fungi and studies on the effect on mycorrhizal fungi".

Com base nos resultados obtidos até este ponto, em que se estabeleceu um sistema de síntese micorrízica com fungos não nativos (sistema modelo), com o objectivo de estudar os aspectos fisiológicos relacionados com a associação simbiótica nestas plantas, considera-se da maior utilidade avançar no sentido de criar relações com a ecologia das mesmas plantas, estudando as relações naturais por elas estabelecidas (micorrizas naturais) e as vantagens que o estabelecimento de sínteses micorrízicas com fungos nativos possa vir a ter na fisiologia da planta. Algum trabalho preliminar foi já iniciado, com a produção de inóculo in vitro de espécies fúngicas associadas ao castanheiro no Nordeste Transmontano, nomeadamente Paxillus involutus, Amanita muscaria e Boletus edulis, com o intuito de produzir plantas de castanheiro micorrizadas. Desta forma, será possível obter plantas que para além de apresentarem um maior crescimento, serão mais vigorosas e resistentes às condições de stress de campo.